quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Carta para Irmã Lúcia:



Querida Irmã Lúcia,

“Mudar, em Educação, não depende apenas de teorias revolucionárias ou da eficácia de novos métodos. Diferente de outros campos de atuação profissional, nenhuma transformação substantiva, nessa área, prescinde do envolvimento dos educadores. Por isso mesmo, toda mudança em Educação significa, antes de tudo, mudança de atitude.”
Sanny S. da Rosa

Mais uma vez vamos a nossa estante escolher um livro para você. Na verdade, é só uma desculpa para lembrarmos de uma pessoa que amamos e para quem olhamos tentando aprender acerca da coragem e da garra. É bom sabermos que você ainda faz perguntas sobre si mesma e sobre todas as outras coisas. É claro que sabemos que as perguntas acabam por tornar-nos ainda mais ininteligíveis como seres, porém como não faze-las sem correr os riscos da ignorância e do congelamento dos nossos corações, corpos e mentes?
Escolhemos esse pequeno livro que, pelo que vimos, animará você e continuará mostrando que no fundo não há a estória do saber mais ou menos. O que na verdade existe são “saberes diferentes” como diz o mestre Paulo Freire.
Vemos na nossa própria trajetória que a educação melhorou nossa natureza humana. Mesmo que isso não seja muito aceito por nós todo o tempo. Aqui incluímos todo tipo de educação, inclusive a que recebemos em escolas e universidades: locais que serviram de meios para obter educação.
Gostamos da frase de Ernest Renan:

“O essencial, com efeito, na educação, não é a doutrina ensinada, é o despertar”

Quando aproximamos dos nossos 50 anos – eu no próximo e Heloisa um ano depois -, estamos, cada vez mais, acreditando nessa coisa do “despertar”. É que somos socratianos a ponto de acharmos que todos os humanos devem querer um pouco mais de modéstia, de pudor, de amor, de moderação, de dedicação, de diligência, de justiça e de educação – aqui entendida em sua forma mais ampla e irrestrita. Lendo com Reich, acreditamos em alguma coisa que ainda chamamos de “caráter” – conceito “perigoso” quando utilizado de sua forma mais conservadora e mosaica.
Enquanto trabalhei em APAEs, em Escolas e Faculdades e mesmo o que ainda faço no consultório, sempre vi a educação como um processo social, como desenvolvimento. Gosto do quando leio o John Dewey falando que a educação não é preparação para vida, “é a própria vida”.
Logo, no seu caso, tudo será só re-descobrimento. É só você tirar de sua alma o que os escultores tiram das peças de mármore. Sei que faria uma pergunta para mim neste momento: e nossas raízes amargas? Eu diria para que você olhasse em sua volta e visse quantos frutos doces saíram de lá.
É claro que nos últimos dias nós fazemos uma educação mais consciente de nós próprios e daqueles que estão sobre o nosso cuidado. Assim deve ser, pois o cuidado que temos sobre qualquer “coisa” acaba por influir sobre a totalidade dessa “coisa”.
No seu caso, chegou a hora de você colocar a educação pública na berlinda. Essa sim não resolveu seu problema básico: o de não levar em conta o desenvolvimento do corpo e da inteligência ao apresentar seu leque de opções para os educandos.
Nas escolas mina irmã o que vimos confere a máxima de Voltaire:

“A educação desenvolve as faculdades, mas não as cria”

A educação de fato, é só olharmos para as nossas vidas, começa mesmo antes mesmo do nosso nascimento, antes de falarmos, antes de entendermos – ali já estávamos sendo instruídos, você não acha? Sou, sou de verdade um Rousseauniano!
Por isso não ganho tempo em minha vida, prefiro perde-lo falando todas essas “filosofias” para alguém que admiro e para quem “oro”, “medito” e “invoco as belezas da vida”, desde de Juiz de Fora ou do trailer, nosso local de Retiro em Ibitipoca.
É lá na serra que continuo meu processo de identificação da educação que veio de fora e é lá que continua a presentear a mim mesmo uma “outra” educação possível, essa sim, mais importante – uma educação com a meditação, uma educação que é oferecida a mim mesmo.
No fundo, o oceano que você agora está mergulhada com os seus cursos é profundo e imensurável. Aqui fico com a linda frase de Kantiana:

“É no problema da educação que assenta o grande segredo do aperfeiçoamento da humanidade”.
Um beijo no seu coração!

Jak e Heloisa

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