terça-feira, 24 de abril de 2007

1000 LUGARES PARA VISITAR ANTES DE MORRER: Parque dos Lençóis



O Pólo Parque dos Lençóis, situado no litoral oriental do Maranhão, envolve os municípios de Humberto de Campos, Primeira Cruz, Santo Amaro e Barreirinhas. Seu maior atrativo é o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, belo e intrigante fenômeno da natureza, que tem Barreirinhas como principal portão de entrada.

O Parque Nacional dos Lençóis é um Paraíso ecológico com 155 mil hectares de dunas, rios, lagoas e manguezais. Raro fenômeno geológico, foi formado ao longo de milhares de anos através da ação da natureza. Suas paisagens são deslumbrantes: imensidões de areias que fazem o lugar assemelhar-se a um deserto. Mas com características bem diferenciadas. Na verdade chove na região, que é banhada por rios. E são as chuvas, aliás, que garantem aos Lençóis algumas das suas paisagens mais belas. As águas pluviais formam lagoas que se espalham em praticamente toda a área do parque formando uma paisagem inigualável. Algumas delas, como a Lagoa Azul e Lagoa Bonita já são famosas pela beleza e condições de banho. Os povoados de Caburé, Atins e Mandacaru são pontos de visita obrigatórios.

Atrativos

Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses 155 mil hectares de pura natureza e muitas surpresas para o viajante, num roteiro que inclui visuais sedutores e por de sol inesquecível, flora e fauna abundantes. Grandes vastidões de dunas, lagoas, banhos de mar esperam pelo turista neste verdadeiro santuário da natureza.

Praias - Ponta do Mangue, Moitas, Vassouras, Morro do Boi, e Barra do Tatu são algumas das belas praias que esperam pelo turista em Barreirinhas. Chega-se de barco a todas elas, partindo-se da sede do município.

Mandacaru - Vila de pescadores onde a maior atração é um farol de 54 metros de altura, de onde se tem um belo visual do parque.

Caburé - - Um delicioso refúgio onde o visitante pode tomar banho de mar e tirar o sal do corpo em água doce. Boa opção de pernoite. Existem chalés e boa comida.

TEORIAS DO BIOCENTRUM: Conheça alguns pontos da teoria do Psicodrama.



A Espontaneidade é a capacidade de agir de modo "adequado" diante de situações novas, criando uma resposta inédita ou renovadora ou, ainda, transformadora de situações preestabelecidas. É um fator que permite ao potencial criativo atualizar-se e manifestar-se.

Tele é a capacidade de se perceber de forma objetiva o que ocorre nas situações e o que se passa entre as pessoas. O Fator Tele influi decisivamente sobre a comunicação, pois só nos comunicamos a partir daquilo que somos capazes de perceber. É também a percepção interna mútua entre dois indivíduos.

Empatia Tendência para se sentir o que se sentiria caso se estivesse na situação e circunstâncias experimentadas pela outra pessoa.

Co-inconsciente são vivências, sentimentos, desejos e até fantasias comuns a duas ou mais pessoas, e que se dão em "estado inconsciente".

Matriz de Identidade, é o lugar do nascimento. Placenta social pois, à maneira da placenta, estabelece a comunicação entre a criança e o sistema social da mãe, incluindo aos poucos os que dela são mais próximos. É o local onde a criança se insere desde o nascimento, relacionando-se com objetos e pessoas dentro de um determinado clima.

Moreno descreve cinco etapas da formação da Matriz, que depois resume em três:

1. Fase da Indiferenciação: onde a criança, a mãe e o mundo são uma coisa só.

2. Fase onde a criança concentra a atenção no outro, esquecendo-se de si mesma.

3. Movimento Inverso: a criança está atenta a si mesma, ignorando o outro.

4. Fase onde a criança e o outro estão presentes de maneira concomitante, e ela já se arrisca a tomar o papel do outro, embora não suporte o outro no seu papel.

5. Fase na qual já se aceita a troca de papéis, (inversão de papéis).

Depois ele agrupou as fases, dividindo em apenas três:

1. Fase do Duplo - Fase da indiferenciação e onde a criança precisa sempre de alguém que faça por ela aquilo que não consegue fazer por si própria, necessitando portanto de um ego-auxiliar.

2. Fase do Espelho - onde existem dois movimentos que se mesclam: o de concentrar a atenção em si mesma esquecendo-se do outro e o de concentrar a atenção no outro ignorando a si mesma. (exemplo disso pode ser o de quando a criança olha a sua própria imagem no espelho e não se identifica como ela mesma, ela só diz: olha o nenê.).

3. Fase de Inversão - em primeiro lugar, existe a tomada do papel do outro para em seguida haver a inversão concomitante dos papéis.

Papel é a unidade de condutas interrelacionais observáveis, resultante de elementos constitutivos da singularidade do agente e de sua inserção na vida social.

"O Papel é a forma de funcionamento que o indivíduo assume no momento específico em que reage a uma situação específica, na qual outras pessoas ou objetos estão envolvidos."

Os Papéis Psicodramáticos correspondem à dimensão mais individual da vida psíquica, "à dimensão psicológica do eu", e os papéis sociais, à dimensão da interação social. Estes papéis, também chamados "psicológicos", e os papéis sociais corresponde a conjuntos diferenciados de unidades de ação. Na fase da Brecha entre Fantasia e Realidade, adquiri-se também, portanto a capacidade de iniciar processos de aquecimento diferenciados, para o desempenho de um e de outro tipo de papel. Só assim se exerce a espontaneidade com a adequação da ação do sujeito a seus próprios papéis.

Papéis Psicodramáticos são "personificações de coisas imaginadas, tanto reais quanto irreais".

Dramatização é o método por excelência para o auto conhecimento, o resgate da espontaneidade e a recuperação de condições para o inter-relacionamento. É o caminho através do qual o indivíduo pode entrar em contato com conflitos, que até então permaneciam em estado inconsciente.

Catarse de Integração é a mobilização de afetos e emoções ocorridas na interelação, télica ou transferencial, de dois ou mais participantes de um grupo terapêutico, durante uma dramatização.

Sonho é uma mensagem que o psiquismo envia para si mesmo.

Vínculos Compensatórios são relações especiais que o indivíduo estabelece com as pessoas ou com as coisas, delegando para as outras pessoas ou coisas funções psicológicas de cuidado, proteção e orientação que ele deveria ter tido nos seus primeiros dois anos de vida, mas não teve.

Jogo Dramático tem como objetivo é permitir uma aproximação terapêutica do conflito; através do jogo. A cena dramática é aquela que expressa algum conflito; sem conflito não há dramaticidade e a cena é vazia, segundo o teatro. Propicia ao indivíduo expressar livremente as criações do seu mundo interno, realizando-as na forma de representação de um papel, pela produção mental de uma fantasia ou por uma determinada atividade corporal.

Diretor na realização de cenas ou jogos, geralmente é o terapeuta. É quem dirige o grupo ou a cena, orientando ou sugerindo determinados jogos e papeis.

O Psicodrama possui algumas modalidades:

O Psicodrama Bipessoal, é o atendimento do cliente somente pelo terapeuta, onde o processo psicoterapêutico se desenvolve na relação dois-a-dois e as dramatizações são feitas, freqüentemente, utilizando-se de almofadas ou blocos de espuma no lugar do Egos Auxiliares.

O Psicodrama Individual com Egos Auxiliares é uma das modalidades de psicodrama em que pode se utilizar de pessoas para assumirem os lugares dos personagens que o cliente solicita.

O Psicodrama Grupal é das modalidades do psicodrama a mais eficiente, pois além de possibilitar todas as vantagens do psicodrama individual com ego possibilita ao cliente lidar com sua intimidade frente a um público, numa relação mais próxima das relações da vida real, diminuindo a distância entre o vivenciar terapêutico e o vivenciar real.

Os Egos Auxiliares em princípio, é todo indivíduo que, ao contracenar com o cliente, joga o papel de pessoas de sua relação ou de figuras de seu mundo interno, figuras já existentes ou não, mas desejadas.

AUDIÇÃO DIÁRIA: Dave Brubeck



Ballads
[album cover]
Notes

Compilation released 7th May 2002 - all of these tracks are re-issues.
Label and catalogue number

* Sony/CBS Legacy JK 089919 (CD compilation)

Personnel

* Dave Brubeck (piano)
* Paul Desmond (alto sax)
* Gerry Mulligan (baritone sax)
* various (bass)
* various (drums)

Tracks

*
* 1. Nostalgia De Mexico (Live)
* 2. Georgia On My Mind
* 3. Summer Song
* 4. Star Dust
* 5. Somewhere
* 6. In Your Own Sweet Way
* 7. Strange Meadowlark
* 8. Estrellita (Live)
* 9. La Paloma Azul (Live)
* 10. Weep No More
* 11. Little Man With A Candy Cigar
* 12. The Duke
* 13. Recuerdo (Live)
* 14. The World's Fair
* 15. Lost Waltz

AUDIÇÃO DIÁRIA: Dave Brubeck



Notes

A 1998 CD of tracks that got lost in CBS archives, recorded in 1967 but now available for the first time.
Label and catalogue number

* Sony/CBS Legacy CK 65777 (CD, 1998)

Personnel

* Dave Brubeck (piano)
* Paul Desmond (alto sax)
* Eugene Wright (bass)
* Joe Morello (drums)

Tracks

* Introduction 1:30
* Mr Broadway 7:19
* Koto Song 7:21
* Sweet Georgia Brown 7:39
* Forth Days 7:22
* You Go To My Head 7:32
* Take Five 5:10
* St Louis Blues 11:19

domingo, 22 de abril de 2007

TEORIAS DO BIOCENTRUM: Psicoterapia e Psicodrama


Qualquer situação de vida que de alguma maneira ofereça algum esclarecimento em relação ao objeto de busca, alguma sistematização técnica em relação à busca e algum controle sobre as variáveis de comportamento de si mesmo e do outro funciona como um processo acelerador do desenvolvimento psíquico, e dentre os processos aceleradores do desenvolvimento psíquico conhecidos, o mais completo e eficiente chama-se Psicoterapia.

A Psicoterapia clareia e conscientiza o objeto de busca, na medida em que norteia o individuo sobre as faltas externas. Ajuda a conscientizar o medo de ser submetido e ao mesmo tempo a necessidade que se tem de alguém que cobre determinados limites. É um conjunto de procedimentos inter-relacionais que possibilita a orientação adequada e aceleração sistematizada do processo de busca.

Um dos objetivos do Psicodrama, do Sociodrama e da Psicoterapia de Grupo é descobrir, aprimorar e utilizar os meios que facilitem o predomínio de relações télicas sobre relações transferenciais, no sentido moreniano. À medida que as distorções diminuem e que a comunicação flui, criam-se condições para a recuperação da criatividade e da espontaneidade. Moreno pretendia que a ação dramática terapêutica levasse a algo mais do que a mera repetição de papéis tais como são desempenhados do quotidiano. A ação dramática permite insights profundos por parte do protagonista e do grupo, a respeito do significado dos papéis assumidos.

Para Moreno, toda ação é interação por meio de papéis. Para agir em conjunto ou de forma combinada as pessoas precisam de um tempo de preparação.

1000 LUGARES PARA VISITAR ANTES DE MORRER: Desrto do Jalapão/TO



Conhecer o Jalapão é conhecer o improvável e o impossível juntos. Improvável pois, andando de carro pelas estradas, observando o cerrado em volta, não se imagina que vai encontrar tanta água e tão limpa como você encontra. Também não parece provável encontrar formações rochosas como lá existe. Tampouco uma duna verdadeira, de areia tão fina e dourada que parece... ouro em pó.
Impossível existir um local como o Fervedouro: você simplesmente "entra" dentro de um olho de mina gigantesco (aliás, dezenas de minas) e simplesmente não consegue afundar. O constante movimento ascendente da água quer te jogar para fora. Lá você conhece a "areia liquida". Só vendo para entender.
Apesar de termos iniciado o nosso passeio por Palmas, entrando por Novo Acordo em direção a São Felix do Tocantins (futura São Felix do Jalapão), as atrações estão exatamente na parte mais sul. O ideal é entrar por Ponte Alta do Tocantins (alcançada através de Brasília, Alto Paraíso e Natividade) e fazer o passeio inverso, até a Cachoeira da Formiga. Depois, a não ser que você esteja em viagem para o norte, o melhor é retornar pelo mesmo caminho.
A estrada é toda em areia e pedra, sendo necessário pelo menos uma picape com tração traseira (no período das secas). O ideal é um 4x4, mesmo original. Não existe nenhuma infra-estrutura a partir de Ponte Alta, portanto, leve comida, material de camping e combustível sobressalente. O percurso é superior a 400 kms sem abastecimento e com alto consumo

TEORIAS DO BIOCENTRUM: Psicodrama



"Um Encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.

E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos e colocá-los-ei no lugar dos meus;

E arrancarei meus olhos para colocá-los no lugar dos teus;

Então ver-te-ei com os teus olhos e tu ver-me-ás com os meus."

(J.L.Moreno)




Jacob Levy Moreno



Nascido em 1889, de origem judaica. Fez faculdade de medicina, clínica de psiquiatria em Viena, onde conheceu Freud.

Um de seus primeiros trabalhos, foi com um grupo de prostitutas, utilizando técnicas grupais. Depois trabalhou em um campo de refugiados tiroleses, observando as interações psicológicas.

Em 1912, fundou o Teatro Vienense da Espontaneidade, onde começou a formar suas idéias da Psicoterapia de Grupo e do Psicodrama.J L Moreno

O grande ato público de Moreno, foi no Teatro Komödien Haus. Ao se abrir a cortina, havia uma coroa numa cadeira de veludo, espaldar alto e dourado, como um trono real. Seu público era da população de Viena pós-guerra. O tema utilizado por ele, era a busca de uma nova ordem de coisas, buscando no público os que tivessem espírito de liderança, sendo o rei por algum momento no qual o júri seria o resto da platéia. Moreno depois descreveu: "...Ninguém foi considerado digno de ser rei e o mundo permaneceu sem líderes".

Quando lançou o "Jornal Vivo", onde as pessoas a partir das notícias de jornais locais realizavam uma dramatização, criou a raiz do Sociodrama.

Transformou os atores profissionais fiéis ao seu trabalho em "egos-auxiliares".

Assim, Moreno vai desenvolvendo seu trabalho, transformando o Teatro da Espontaneidade em Teatro Terapêutico e este no Psicodrama Terapêutico. Vem deste momento o embrião do Psicodrama de Família e de Casal.

Quando se muda para os EUA, por dificuldades na aceitação de suas idéias na Europa, dizem alguns, começa a propagar o Psicodrama , introduzindo o termo Psicoterapia de Grupo.

1936 em Beacon House, Moreno constrói o primeiro Teatro Psicodramático, que funcionou até 1982 como um centro de formador de profissionais, e onde eram realizadas sessões semanais com psicodrama público.

Teve a desconfiança da comunidade científica, que via nele um pregador messiânico e que buscava nos grupos que propunha tratar, uma ingênua fraternidade. Seus diálogos acabaram por ser com terapeutas de outras linhas, para esclarecer os fundamentos de sua proposta como pesquisador e psicoterapeuta.

Morre em 14 de Maio de 1974, com 85 anos, pedindo para gravar em sua sepultura:

"Aqui jaz aquele que abriu as portas da psiquiatria à alegria."

ALDIÇÃO DIÁRIA: Dave Brubeck





Song Titles

1. Take Five - Performed by: Dave Brubeck - Track Length: 5:24
2. I'm In A Dancing Mood - Performed by: Dave Brubeck - Track Length: 2:59
3. In Your Own Sweet Way - Performed by: Dave Brubeck
4. Camptown Races - Performed by: Dave Brubeck
5. The Duke - Performed by: Dave Brubeck
6. It's A Raggy Waltz - Performed by: Dave Brubeck
7. Bossa Nova U.S.A - Performed by: Dave Brubeck
8. Trolley Song - Performed by: Dave Brubeck
9. Unsquare Dance - Performed by: Dave Brubeck
10. Blue Rondo A La Turk - Performed by: Dave Brubeck
11. Theme From "Mr. Broadway" - Performed by: Dave Brubeck

1000 LUGARES PARA CONHECER ANTES DE MORRER:

A mais movimentada feira livre de Belém é o lugar onde se encontra uma amostra do universo de variedades que compõem a cultura paraense


Mercado Ver-o-Peso



Mercado Ver-o-Peso, em Belém, mistura um passado
que continua vivo, com um presente cheio de inovações

Doca do Porto de Belém, ao lado do Forte do Castelo, quem visita Belém não pode deixar de conhecer o famoso mercado a céu aberto. É lá que a cidade acorda há mais de três séculos, com a chegada dos barcos, bem cedinho.
Sua origem data da segunda metade do século XVII. Em 21 de março de 1688, quando resolveram estabelecer um rígido controle alfandegário na Amazônia, os portugueses criaram um posto de fiscalização e tributos - a casa do Haver-o-Peso. Uma balança e um funcionário público mediavam as transações comerciais da época.
Os tempos passaram e a feira, onde se vende e compra de tudo, continua sendo o mais bonito cartão postal de Belém.
O Ver-o-Peso é uma mistura de um passado que continua vivo, com um presente cheio de inovações que tentam adentrar naquele mundo. Começou com um ancoradouro simples, onde embarcações de todo mundo aportavam na Baía do Guajará, formada pelos rios Guamá, Moju e Acará. Atualmente ali encostam tanto os barcos de pesca quanto as pequenas canoas.


Atualmente, está sendo desenvolvido
um projeto de revitalização de todo o complexo


Obras arquitetônicas não faltam. Em meio a tanta simplicidade encontram-se traçados deslumbrantes como o Mercado Municipal de Carne, feito por Francisco Bolonha. O Mercado de Ferro, ou de Peixe, com suas inesquecíveis torres, é um dos cartões postais da cidade. À primeira vista, a impressão não é das melhores, mas vale a pena reparar nos detalhes das colunas e das escadas, todas em ferro forjadas em Londres e Nova York, foram montadas no local, o que da uma idéia do apogeu econômico do ciclo do látex na Amazônia. Ou mesmo o Solar da Beira, construção em estilo neoclássico, onde funcionava a antiga fiscalização municipal e atualmente é usado como espaço cultural.
Bem pertinho do ancoradouro, depois de passar pela feira onde pode-se comprar de tudo, encontra-se a Praça do Pescador, um local agradável onde pode-se observar uma bela paisagem.
O complexo Ver-o-Peso é formado ainda pela Praça do Relógio, Praça dos Velames e pelo Palacete de Bolonha. Este, foi um presente do engenheiro Francisco Bolonha para sua esposa Alice, em 1905. Hoje faz parte do patrimônio histórico da cidade. Construído com diferentes materiais importados, tem estilo eclético. Nele encontramos "art nouveau", elementos neoclássicos, góticos e barrocos. As telhas foram pintadas de forma a proporcionar um bonito jogo de cores à distância.
Ao todo são 26,5 mil metros quadrados, onde estão instaladas duas mil barracas e casas comerciais populares onde são vendidos, desde carnes, peixes, legumes, frutas, artigos regionais, artigos de umbanda, ervas medicinais, roupas e bijuterias. Apesar de parecer um grande varejão, a mistura de cores, cheiros e objetos é muito interessante, além de folclórica.


Praça do Relógio, um dos tantos marcos
arquitetônicos do complexo Ver-o-Peso

Mandingas, encantarias e remédios para todos os males são uma atração a parte na maior feira-livre do Brasil. As mandingueiras, chamadas de bruxas por muitos, são mulheres que vivem de misturar ervas, perfumes e pedaços de animais, criando "poções mágicas".


Mandingas, encantarias e
remédios para todos os males


Para as mandingueiras, qualquer problema tem solução. Os preparados são indicados para resolver vários problemas como traição, solidão, atrair bons negócios, espantar mau olhado e curar doenças. Na maioria das vezes, as mandingueiras convidam os visitantes a conhecer o poder das ervas amazônicas.
Atualmente, o Ver-o-Peso funciona como entreposto comercial de Belém, aonde barcos chegam às docas trazendo produtos do rio e da floresta, que depois serão vendidos nas barracas amontoadas no pátio junto do mercado de peixe. Ali são vendidas até 10 toneladas de peixe diariamente. Há também as barracas de cheiro, e a conhecida Feira do Açaí.
A feira, como o nome sugere, é um entreposto de comercialização do açaí, fruto que é produto básico da alimentação do paraense. A feira se ergue numa espécie de terraço construído ao pé da muralha do forte. Num dos extremos da feira, um quiosque abriga uma pequena loja de artesanato. Ali funcionou o primeiro necrotério da cidade.
Além da venda do açaí que vem das ilhas próximas, dispõe de bares onde os freqüentadores desfrutam da tranqüilidade de poder experimentar bebidas e comidas típicas ao sabor da brisa que sopra da Baía do Guajará.
Infelizmente, nos dias de hoje o cartão postal de Belém está um pouco abandonado, e para visitá-lo é preciso ter cuidado com bolsas, carteiras e máquinas fotográficas. A Prefeitura de Belém e o Instituto Herbert Levy estão desenvolvendo um projeto de revitalização do Ver-o-Peso, que já foi cantado em versos de Manuel Bandeira e Mário de Andrade. "A idéia é conseguir, junto a iniciativa privada, com a Lei de Mecenato, R$ 25 milhões para recuperar os prédios e garantir a limpeza e segurança total no complexo", diz o secretário municipal de cooperação e captação de recursos, Rodrigo Peixoto. Mas aparte os problemas, Ver-o-Peso é um lugar onde se encontra uma amostra do universo de variedades da cultura paraense. O intenso movimento dos barcos e o vai e vem das pessoas empresta um belíssimo colorido à paisagem, já bastante atraente pela variedade de produtos expostos à venda.


Praça do pescador, no complexo do Ver-o-Peso,
oferece sempre uma boa paisagem

Há muito a descobrir. É um mundo cheio de pequenos e interessantes detalhes. A maneira como as pessoas se comportam, andam, falam, é diferente. Um lugar muito diversificado, onde todos se encantam, às margens do rio onde nasceu Belém.


Uma amostra do universo
de variedades da cultura paraense


Sobre a cidade, já dizia Euclides da Cunha, "não se imagina, no resto do Brasil, o que é Belém". Uma das primeiras cidades brasileiras a ter luz elétrica nas ruas, bonde e telefone. Belém foi fundamental para a conquista da Amazônia. Repleta de túneis formados por mangueiras seculares, plantadas para aliviar o calor, Belém tem em torno de 1,3 milhão de habitantes que vivem principalmente do comércio, da indústria e da economia informal. Os belenenses são orgulhosos da sua culinária original, das frutas da terra, do artesanato indígena, dos ritmos e das tradições religiosas. A cidade responde por cerca de 60% do PIB do Pará (12,8 bilhões), e seu grande "marketing" turístico é a festa do Círio de Nazaré, que mobiliza 1,5 milhão de pessoas no segundo domingo de outubro.

sexta-feira, 20 de abril de 2007

ALDIÇÃO DIÁRIA: Dave Brubeck



This album was compiled by the Dave Brubeck Quartet, consisting of Brubeck, Paul Desmond, Eugene Wright and Joe Morello after a a tour of Japan the year before. Which you can easy gain the sense that the sound was influenced by Japanese culture, while still holding firm grounds on traditional jazz. Toki's Theme is one of my favorite song on the album with an oriental intro played by Brubeck and Desmond simultaneously, and then having Brubeck throw down an amazing improvisation. The mood changes from upbeat swing to melodic ballads on "Zen Is When" and "Fujiyama" creating a very relaxed vibe.

Tracks

1. Tokyo Traffic (5:54)
2. Rising Sun (4:42)
3. Toki's Theme from CBS-TV Series, "Mr. Broadway"] (2:10)
4. Fujiyama (5:05)
5. Zen Is When (2:55)
6. The City Is Crying (6:03)
7. Osaka Blues (5:11)
8. Koto Song (3:01)

Sobre a "política educacional de vida fácil para crianças, adolescentes e jovens adultos":



Queridos,

Eu e Heloisa, como pessoas, pais e terapeutas, sempre gostamos de divulgar pensamentos e sentimentos que denunciam o que é chamado “ política educacional de vida fácil para crianças, adolescentes e jovens adultos”.
Procedimentos os mais variados, muitas vezes atestados por pais e educadores, tem criado uma geração “sem conceito da realidade”.
Pelo que temos visto em nossas vidas , essa “pedagogia diabólica” acaba por levar as pessoas a falharem em suas vidas após seus períodos escolares,
Sendo boataria de internet ou não, achamos interessante compartilhar com vocês essas regras atribuídas a Bill Gates.
Reflitam e se quiserem comentem conosco acerca de como vocês sentem e pensam a questão do “des-compromisso” com peso das responsabilidades, quando prolongamos demasiadamente a infância e a adolescências daqueles que a Existência facultou-nos o direito e o dever de educá-los para a VIDA.

Um beijo no coração,

JAK E HELOISA




As 11 regras a seguir são atribuídas a Bill Gates.

Segundo uma das fontes que achei: Bill Gates foi convidado por uma escola secundária para uma palestra. Chegou de helicóptero, tirou o papel do bolso onde havia escrito onze itens.

Leu tudo em menos de 5 minutos, foi aplaudido por mais de 10 minutos sem parar, agradeceu e foi embora em seu helicóptero.

A vida não é fácil — acostume-se com isso.
O mundo não está preocupado com a sua auto-estima. O mundo espera que você faça alguma coisa útil por ele ANTES de sentir-se bem com você mesmo.
Você não ganhará R$20.000 por mês assim que sair da escola. Você não será vice-presidente de uma empresa com carro e telefone à disposição antes que você tenha conseguido comprar seu próprio carro e telefone.
Se você acha seu professor rude, espere até ter um chefe. Ele não terá pena de você.
Vender jornal velho ou trabalhar durante as férias não está abaixo da sua posição social. Seus avós têm uma palavra diferente para isso: eles chamam de oportunidade.
Se você fracassar, não é culpa de seus pais. Então não lamente seus erros, aprenda com eles.
Antes de você nascer, seus pais não eram tão críticos como agora. Eles só ficaram assim por pagar as suas contas, lavar suas roupas e ouvir você dizer que eles são “ridículos”. Então antes de salvar o planeta para a próxima geração querendo consertar os erros da geração dos seus pais, tente limpar seu próprio quarto.
Sua escola pode ter eliminado a distinção entre vencedores e perdedores, mas a vida não é assim. Em algumas escolas você não repete mais de ano e tem quantas chances precisar até acertar. Isto não se parece com absolutamente NADA na vida real. Se pisar na bola, está despedido… RUA!!! Faça certo da primeira vez!
A vida não é dividida em semestres. Você não terá sempre os verões livres e é pouco provável que outros empregados o ajudem a cumprir suas tarefas no fim de cada período.
Televisão NÃO é vida real. Na vida real, as pessoas têm que deixar o barzinho ou a boate e ir trabalhar.
Seja legal com os CDFs (aqueles estudantes que os demais julgam que são uns babacas). Existe uma grande probabilidade de você vir a trabalhar PARA um deles.
Falou o Tio Bill.

AUDIÇÃO DIÁRIA: Dave Brubeck



Live, recorded 22nd Feb 1963.

Personnel

* Dave Brubeck (piano)
* Paul Desmond (alto sax)
* Eugene Wright (bass)
* Joe Morello (drums)

Disc 1

1. St. Louis Blues
2. Bossa Nova U.S.A.
3. For All We Know
4. Pennies From Heaven
5. Southern Scene
6. Three To Get Ready

Disc 2

1. Eleven Four
2. It's A Raggy Waltz
3. King For A Day
4. Castilian Drums
5. Blue Rondo A La Turk
6. Take Five

quarta-feira, 18 de abril de 2007

UMA CARTA PARA O MEU AMOR




Juiz de Fora, 18 de abril de 2007.

Heloisa,
Hayyar,
Daya,

“...mas no que diz respeito a si mesmo, você já existia antes do seu nascimento e continuará existindo para sempre”.
Osho

Feliz Aniversário para vocês três! Afinal fazemos parte de um grupo que já sabe que podemos amar o mundo inteiro, não é mesmo?
No dia do seu aniversário eu aproveito a oportunidade para agradecer à existência pelo nosso amor não possessivo, pelo nosso amor inclusivo, pelo nosso amor infinito, pelo nosso amor que é um “céu inteiro”.
Muito obrigado por você não ter somente um relacionamento comigo, por vivermos juntos um “estado de ser”. Com você tenho aprendido que a amando, posso através de você amar a todos os seres.você é mesmo uma representante, um exemplo de todas as mulheres que já existiram, que existe e que existirão na face da terra.
De uma forma mais específica, você tem sido a porta para o meu conhecimento acerca do que é chamada feminilidade. Isso eu pude ver hoje pela manhã quando você com a alegria de uma menina experimentava as suas novas roupas.
Agradeço a Deus por você ser simplesmente humana também. Assim eu aprendo a amar os outros seres humanos.
Que nós, agora que começaremos os nossos “maiores movimentos” nessa Terra de Deus, continuemos a ver a energia do nosso amor sendo, cada vez mais, liberada para todos com quem encontrarmos pelo caminho.
Desejo a você nesta data e sempre, que os seus passos continue rumo a Verdade – que você prossiga, cada vez mais, no caminho do seu auto-aperfeiçoamento.
O Osho diz que

“o caminho da iluminação é como um pássaro voando no céu: não deixa pegadas atrás de si, pois ninguém pode seguir as pegadas de um pássaro”.

Eu, sabendo disso, tento, ao seu lado, criar minhas próprias pegadas. Sei também que as minhas pegadas desaparecem imediatamente enquanto continuo o meu vôo. O bonito é que vamos seguindo os nossos caminhos

“acima das nossas diferenças”
, sabendo que eles já não mais fazem parte do tempo. Eles são parte da eternidade!
Já aprendemos algumas coisas:
Que dependência não é amor
Que depender (de alguém) significa conflito, raiva, ódio, inveja, possessividade, dominação
Que é necessário aprendermos a não sermos dependentes
Que devemos estar, cada um de nós plenos de êxtase em nós mesmos
Que podemos compartilhar um com o outro da nossa alegria

Gosto de chamar o nosso casamento de “amizade”, seguindo o conselho do Osho. Nunca olhei muito para o nosso vínculo legal que foi feito depois de 10 anos por questões meramente burocráticas. Gosto mesmo é do

“estar junto amoroso”

As promessas para o futuor, cada vez mais tem nos interessado menos. Somos duas pessoas que nos amamos nesse momento – esse momento já basta! Os próximos momentos brotarão desse momento, e será enriquecido. Aqui cabe crermos na profecia do Osho:

“conforme o tempo passar, seu amor se tornará mais profundo, começará a tomar novas dimensões, mais não criará amarras”.

Convido você para continuarmos hoje e em todos os dias de nossas vidas, a realizar nossas “verdadeiras celebrações”. Dessas que saem de dentro de nossas vidas quando estamos no teatro, no cinema, nas galerias, nos museus, nos parques, quando estamos na vida.
Que a sua vida continue a ser uma celebração contínua,

“um festiival de fogos e luzes”

durante toda a eternidade dos seus dias!
Começamos a celebrar o seu aniversário dançando, ali, naquele momento, com o meu corpo se movendo, senti uma forte vontade no meu coração de dar a você um presente genuíno, cheio de fluidez,
Aqui estão estas palavras que, pelo que sinto agora, mantém a mesma fluidez, fazendo com que eu sinta o seu corpo e sua alma em total harmonia com o meu coração.
Se o poeta Willian Blake estava certo – se “energia é êxtase” -, celebro o seu aniversário cheio de energia, cheio de êxtase, em uníssono com você, como dizem os cantores das óperas que assistimos coladinho um ao outro.
Heloisa, você é uma benção para o mundo!
E,
“en la calle codo a codo somos mucho más que dos”,

como diz o poeta uruguaio Mario Benedetti. Isso porque somos uma totalidade, vivemos totalmente, intensamente, estamos livres nesse amor que brota dentro de cada um de nós. Sem olharmos para trás e nem para frente. Simplesmente permanecendo no aqui e agora, sem passado, sem futuro.
Um beijo no seu coração,

Jak, Ibrahim, Pranaya

terça-feira, 17 de abril de 2007

A Verdade





“A verdade é. Não é preciso esforço algum de sua parte para inventá-la. A verdade tem que ser descoberta, não inventada. E o que está nos impedindo de descobri-la? Nos ensinaram muitas mentiras, montanhas de mentiras. Estas são as barreiras que continuam falsificando a verdade, que não permitem que nossos corações sejam um reflexo daquilo que ela é.
A verdade não é uma conclusão lógica. A verdade é a existência, a realidade. Ela já está aqui – ela sempre esteve aqui. Somente a verdade existe. Então, por que não conseguimos encontrá-la? Porque desde o início da infância, nos ensinaram falsidades, pré-julgamentos, ideologias, religiões, filosofias... Tudo isto fez com que ficássemos perdidos. Como fazer para encontrá-la?
A verdade não é uma idéia. Você não precisa ser um hindu para conhecê-la, ou um muçulmano, ou um cristão. Se você for um hindu, nunca irá conhecê-la; exatamente por ser um hindu, isto irá mantê-lo cego. O que queremos dizer quando dizemos, ‘eu sou um hindu, ou um muçulmano, ou um judeu’? Nos queremos dizer, ‘ eu já tenho idéias a respeito do que é a verdade – idéias da Bíblia, do Corão, ou do Gita, mas eu já tenho as idéias. Eu não conheço a verdade, mas já sei muito a respeito dela.’ E este ‘já sei muito a respeito’ é o único problema que tem que ser resolvido.
Uma vez que você abandone suas idéias a respeito da verdade, você se verá face a face diante dela interna e externamente. Você se verá diante dela porque nada mais existe.
Mas, os pais, a sociedade, o estado, a igreja e o sistema educacional, todos eles dependem de mentiras. Assim que a crianca nasce, eles começam a montar as armadilhas para lhe incutir mentiras. A criança é indefesa. Ela não consegue escapar de seus pais, ela é completamente dependente. Você pode explorar a sua dependência... E isto tem sido explorado ao longo dos séculos.
Ninguém foi tão explorado quanto as crianças – nem o proletariado, nem as mulheres. Ninguém foi explorado tanto, tão profundamente e tão destrutivamente quando as inocentes crianças. E porque são indefesas e dependentes, elas aprendem qualquer coisa que vocês lhes ensinem. Elas têm que engolir todas as mentiras que vocês continuam empurrando para dentro delas. É uma questão de sobrevivência, pois elas não conseguem sobreviver sem vocês. É uma questão de vida ou morte! Elas têm que ser hindus, ou muçulmanas, ou jainas, ou budistas, ou comunistas. Tudo que vocês estiverem interessados em colocar em suas mentes, vocês colocarão.
Ao invés de torná-las mais alertas, mais conscientes, mais vivas e mais reflexivas como um espelho, ao invés de torná-las mais puras, vocês as tornam cheias de idéias... Camadas e camadas de poeiras. E assim, fica impossível para elas ver aquilo que é. Elas começam a ver aquilo que não é e param de ver aquilo que é.
Então, ser verdadeiramente religioso significa um renascimento: tornar-se novamente como uma criança e abandonar tudo o que a sociedade lhe deu.
A religião é uma rebelião contra tudo o que lhe foi imposto, uma rebelião contra ser reduzido a um computador. Simplesmente olhe para dentro! Tudo o que você sabe, foi-lhe ensinado, não é um conhecimento seu, não é autenticamente seu. Como pode ser autêntico, se não é seu? Você não é uma testemunha dele, você é apenas uma vítima – vítima das circunstâncias.
É apenas um acidente nascer na Índia ou na Inglaterra. É apenas um acidente nascer numa família hindu ou numa família cristã. Por causas desses acidentes, a sua natureza essencial foi perdida. Você foi forçado a perdê-la. Se você quiser resgatá-la, você terá que renascer.
E é isto exatamente o que Jesus quer dizer quando diz a Nicodemos: ‘A não ser que nasça novamente, você não entrará no reino de Deus.’ Na verdade, ele não quer dizer que você tem que morrer, tem que cometer suicídio e depois nascer de novo. Isto não irá ajudar, pois você irá nascer novamente com alguns pais, numa certa sociedade, dentro de uma certa igreja, e de novo a mesma estupidez será feita com você.

Por ‘renascimento’, Jesus quer dizer que agora, deliberadamente e conscientemente, você é capaz de abandonar tudo o que lhe foi ensinado. Abandone o seu conhecimento e torne-se inocente. E esta é a única maneira de se tornar inocente. O conhecimento é a contaminação. Ser inocente é estar num estado de não-conhecimento e, funcionar a partir deste estado, é a única maneira de conhecer a verdade.
Medite sobre estes sutras tremendamente significantes de Goutama Buda.
Ele diz:

Tomando erradamente o falso como sendo verdadeiro
E o verdadeiro como sendo falso,
Você faz vista grossa para o coração
E se enche de desejos.

A mente nada mais é que desejos. O coração não conhece desejos. Você ficará surpreso ao saber que todos os desejos pertencem à cabeca. O coração vive no presente, ele pulsa e bate no aqui e agora. Ele nada conhece a respeito do passado e do futuro. Ele sempre está aqui e agora.
E eu não estou falando a respeito de uma filosofia. Eu estou simplesmente declarando um fato tão simples que você pode observá-lo dentro de si mesmo: o seu coração está batendo agora. Ele não consegue bater no passado nem no futuro. O coração conhece apenas o presente, por isto ele é completamente puro. Ele não está poluído pelas memórias do passado, pelos conhecimentos, pelas experiências passadas, por tudo que lhe foi dito e ensinado, pelas escrituras e pelas tradições. Ele nada sabe a respeito de todas estas tolices! Ele nada sabe a respeito do futuro, do amanhã. Para ele o passado não existe mais e o futuro ainda não existe. Ele está completamente aqui. Ele é imediato.
Mas a mente é exatamente o oposto do coração. Ela nunca está aqui e agora. Ou ela está pensando nas belas experiências do passado ou está desejando as mesmas belas experiências no futuro. Assim ela segue pulando entre o passado e o futuro. Ela nunca pára no presente. Ela ignora completamente o presente. Para a mente, o presente não existe. Veja o ponto: o presente é a unica coisa que existe, mas para a mente o presente é a unica coisa que não existe. O passado é não-existencial, o futuro é não-existencial, mas para a mente essas são as únicas coisas existenciais.
A cabeça é o problema... E o coração é a solução.
A criança funciona a partir do coração. Na medida em que você começa a crescer, começa a se mover do coração para a cabeça. Quando alcança a graduação na universidade, o coração já foi esquecido completamente. Você está pendurado na cabeça. Toda a sua energia moveu-se para a cabeça.
Agora você nada sabe a respeito da realidade. Você está cheio de lixo erudito e tolices acadêmicas. Você pode ser um Ph.D. um D.Litt. Você conhece muito, mas nada conhece! Porque o verdadeiro conhecer acontece no coração, não na cabeça. E as universidades existem para desviar a sua energia do coração para a cabeça.
Todas as universidades no mundo, até agora, têm sido inimigas da humanidade. Toda a função delas é servir ao estado e à igreja. Elas são agentes do status quo, elas são agentes de interesses ocultos. Elas não servem a você. Elas servem aos poderosos, aos patrões, aos opressores e aos exploradores. As universidades servem a tudo o que está ao redor do poder. Elas ainda não estão a serviço da humanidade.
Se elas estivessem verdadeiramente a serviço da humanidade, então as universidades seriam os locais para se aprender a rebelião, elas criariam revolucionários. A univerdade não criaria pessoas convencionais, conformistas. Ela criaria rebeldes, aventureiros, prontos para arriscarem suas vidas pela verdade. Isto não aconteceu ainda.
É um fato triste que em nome da educação seja dada continuidade a alguma coisa muito feia. Por trás da fachada, algo muito criminoso continua. E o crime é este: eles desviam sua energia do coração para a cabeça, destroem sua capacidade de amar e forçam-no a aprender lógica. Para eles a lógica é mais importante que o amor, pensar é mais importante que ser sensível. Isto é colocar o carro na frente dos bois. Isto está totalmente às avessas.
É por isto que a humanidade está em tal confusão. O que não é verdadeiro parece ser verdadeiro e o que é verdadeiro parece ser não-verdadeiro. Eles tem tido êxito em distorcer a sua visão. Os Budas têm lutado contra todos estes interesses ocultos.
Buda diz:

Tomando erradamente o falso como sendo verdadeiro
E o verdadeiro como sendo falso,
Você faz vista grossa para o coração
E se enche de desejos.

A mente é desejo e vocês continuam se enchendo de mais e mais desejos, mais e mais ambições, buscando poder, prestígio e riqueza. E se esqueceram completamente que existe um coração batendo dentro, o qual já vive em Deus, o qual já é parte da lei maior – ais dhammo sanantano – aquilo que já é parte da inesgotável e eterna lei. Vocês já estão ligados a Deus a partir de seus corações. Seus corações são raízes no solo de Deus. Seus corações ainda são alimentados por Deus, pela verdade.
Mas vocês não estão ali. Vocês deixaram o local vazio. Vocês vivem na cabeça. Vocês passam todos os dias em suas cabeças; nunca descem de lá. Mesmo durante a noite, enquanto dormem, vocês continuam com o barulho na cabeca... Sonhos, sonhos e mais sonhos. Durante o dia, pensamentos, e durante a noite, sonhos. Eles não são diferentes.
O sonho é apenas a tradução do pensamento para a linguagem do sono, e vice-versa: pensar nada mais é que a tradução do sonho para a linguagem do dia. Você continua se movendo entre estas duas coisas: sonhar e pensar. Ambos são desejos. O que você pensa a não ser desejos? O que você sonha a não ser desejos?
Buda diz que o falso parece ser verdadeiro porque você se tornou falso para a sua própria verdade, para o seu próprio coração. Volte para o seu coração e então você será capaz de reconhecer a verdade como verdade e o falso como falso. Isto é iluminação, isto é voltar para casa.

Veja o falso como falso.

Mas, por onde começar? Comece por ver o falso como falso. É por isto que todos os Budas parecem ser negativos, todos os Budas parecem ser destrutivos. Eles negam. Jesus nega. Ele diz repetidas vezes: ‘No passado lhes foi dito isto, mas eu digo a vocês...’ E ele muda todo o ponto de vista.
Por exemplo, ele diz: ‘No passado foi dito que a lei era: pague com a mesma moeda. Se alguém lhe atirar um tijolo, reaja atirando-lhe uma pedra. Mas eu lhes digo, se alguém bater-lhe em uma face, ofereça a outra também. E se alguém levar-lhe o casaco, dê-lhe a camisa também. E se alguém forçá-lo a andar uma milha, ande duas.’
Maomé é contra todas as imagens de Deus porque seu povo esteve adorando imagens por séculos. Eles tinham trezentos e sessenta e cinco deuses, um deus para cada dia do ano. A Caaba, na época de Maomé, era um dos maiores templos do mundo, dedicado a trezentos e sessenta e cinco deuses. Maomé destruiu todos aqueles ídolos. Isto parece negativo!
Buda diz: ‘Não existe verdade nos Vedas nem nos Upanishads. Cuidado com palavras bonitas! Cuidado com especulações filosóficas! Não desperdice seu tempo com lógica. Fique em silêncio! Jogue fora os Vedas de sua cabeça; somente assim você consegue ficar em silêncio.’ Ele parece negativo, ele parece nihilista, perigoso – mas esta é a única maneira que você pode ser ajudado.
O falso tem que ser mostrado a você como falso. Você tem que começar com isto: neti neti – nem isto nem aquilo. O Mestre tem que dizer a você: ‘Isto é falso e aquilo é falso.’ Ele tem que continuar apontando para você tudo o que for falso, porque quando você souber tudo o que for falso, de repente uma transformação acontece em sua consciência. Quando você se tornar consciente do que é falso, começará então a ficar consciente do que é verdadeiro.
Não se consegue ensinar o que é a verdade, mas certamente se consegue ensinar o que não é a verdade. Você foi condicionado; você pode ser descondicionado. Você foi hipnotizado – como hindu, muçulmano, cristão, jaina... A função do Mestre é desipnotizá-lo. Uma vez que você seja desipnotizado, de repente será capaz de ver a verdade. A verdade não precisa ser ensinada. (...)”



OSHO - The Book of the Books - Volume I - Discourse n. 3
Palestras sobre O Dhammapada, de Gautama, o Buda
tradução: Sw.Bodhi Champak


Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
Todos os direitos reservados.

AUDIÇÃO DIÁRIA: Dave Brubeck



Dave Brubeck Plays Music from West Side Story and...

Notes

A 1986 issue with selections from earlier released material: West Side Story (1960), Anything Goes (1962), and My Favorite Things (1965). Tracks 1-3,5 were also released as one side of DB plays West Side Story / Andre Previn plays My Fair Lady on the I Love Jazz label.
Label and catalogue number

* CBS I Love Jazz 21065 (Eu LP, side 1 only)
* Sony/CBS 450410 (UK CD release))
* Sony/CBS Legacy CK 40455 (US CD release)

Personnel

* Dave Brubeck (piano)
* Paul Desmond (alto sax)
* Eugene Wright (bass)
* Joe Morello (drums)

Tracks

* Maria (Sondheim-Bernstein) 3'17"
* I Feel Pretty (Sondheim-Bernstein) 5'09"
* Somewhere (Sondheim-Bernstein) 4'15"
* A Quiet Girl (Comden-Green-Bernstein) 2'22"
* Tonight (Sondheim-Bernstein) 3'48"
* What Is This Thing Called Love (Porter) 6'16"
* The Most Beautiful Girl In The World (Hart-Rodgers) 5'17"
* Night And Day (Porter) 4'55"
* My Romance (Hart-Rodgers) 6'49"

segunda-feira, 16 de abril de 2007

Estados modificados de consciência nas artes marciais orientais



by Alexandre Ramos

Ao longo da história da humanidade, certas pessoas declararam ter entrado num estado "superior" de consciência, ter tido um contacto directo com a "Verdade", uma intuição muito forte e indescritível de uma dimensão diferente daquela vivida pelo comum dos mortais (Weil, 1976). Apesar desta vivência poder ocorrer sem causa aparente, de repente e em qualquer local (Wilber, 1991), há milhares de anos que foram elaborados métodos, nos cinco continentes, para se obter esse estado de consciência. Entre eles podemos assinalar: as diversas modalidades de Yôga; o Sufismo; os ritos iniciáticos egípcios, assírios e babilónicos, dos quais ainda encontramos alguns traços nas sociedades iniciáticas contemporâneas como a Teosofia, a Maçonaria e a Rosa-Cruz; a Cabala hebraica; a Alquimia; os Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loiola; diferentes técnicas de meditação; o T'ai-Chi-Ch'uan (Weil, 1976, 1979) e outras artes marciais orientais (Maliszewski, 1996).

Denominam-se «artes marciais» (de Marte, nome romano do deus grego Ares, o deus da guerra, dos agricultores e dos pastores, filho de Zeus e Hera, e amante de Afrodite), os diferentes métodos de defesa pessoal e técnicas militares que têm servido aos diferentes povos para a defesa do território e dos bens pessoais e públicos dos seus cidadãos (Natali, 1987). No entanto, nos dias de hoje, são somente chamadas «artes marciais», «artes de combate» ou «artes de combate e meditação» (Lima, 1990), as artes de defesa pessoal de origem oriental (e.g., Karate-Do, Judo, Kung Fu), talvez por possuírem uma codificação mais sistemática, por estarem organizadas de forma hierárquica, e possuírem uma metodologia mais uniforme (Natali, 1987).

No Japão, o Budo (a via do guerreiro) agrupa a totalidade das artes marciais. O Budo aprofundou de maneira directa as relações existentes entre a ética, a religião e a filosofia. Os textos antigos que lhe são consagrados dizem respeito essencialmente à cultura mental e à reflexão sobre a nossa natureza: quem sou eu? Portanto, o kanji "Bu" significa também parar a luta, pois o objectivo no Budo não é concorrer com os outros, mas sim encontrar sabedoria, paz e mestria de si. "Do" é a via, o método, o ensinamento para compreender perfeitamente a natureza do nosso próprio Eu, o não-ego (Deshimaru, 1983). Portanto, as artes marciais são essencialmente uma via espiritual (Durix, 1978). A sua relação com o desporto é muito recente (Deshimaru, 1983).

À primeira vista, a prática de artes marciais não parece ser uma forma de meditação. Kata, a prática de formas codificadas, mais parece uma dança, e os exercícios com um parceiro aparentam uma competição ou um encontro violento. O que parece torná-las uma actividade meditativa é a forma como a mente é usada na sua prática. Pensamentos alheios podem aparecer, mas são ignorados em favor de uma concentração contínua nas acções desenvolvidas. Nos exercícios com um parceiro, os lapsos mentais ou o afastamento da mente das necessidades de ataque e defesa, são desencorajados não só pela tentativa de seguir as instruções, mas pelo conhecimento, periodicamente reforçado, de que o ataque do oponente pode causar dor ou mesmo danos físicos (Kauz, 1992). A via ensinada pelos mestres de artes marciais, não pretende conseguir automatismos materiais - apanágio do cerebelo -, mas sim opções ultra-rápidas das quais é melhor que a "cabeça" não participe. A partir daí a antecipação espontânea assegura a vitória porque o praticante chegado a tal grau, fundiu-se completamente com o adversário, com as suas armas, com o mundo (Israel, 1998).

Foi propósito deste artigo realçar que as artes marciais do oriente têm também como finalidade conduzir o praticante a um estado de hiperconsciência, designado por samádhi no Yôga. Começaremos por estabelecer um quadro teórico sobre a consciência e seus estados modificados. Por fim, é exposto o resumo de um estudo realizado pelo autor, sobre esta problemática.



CONSCIÊNCIA

Em Psicologia e Psiquiatria o termo «consciência», tal como muitos outros, não admite uma definição universal. No que denominamos consciência incluem-se faculdades, tais como, a orientação no tempo e no espaço, a memória, assim como o estado de humor dominante e reconhecível como próprio (Gastó, 1998). A consciência pode ser entendida de duas formas, a saber: (1) em estreito significado da palavra, e (2) em sentido lato da palavra (Scharfetter, 1999). No primeiro caso, a consciência: é a percepção, conhecimento mais ou menos claro que cada um pode ter da sua existência e da do mundo exterior (Nova Enciclopédia Larousse, 1996). Deste ponto de vista, consciência e mente podem distinguir-se: a consciência é a parte da mente que respeita ao si e ao conhecimento. A mente pode existir sem consciência, como já descobrimos através dos doentes que possuem uma, mas não a outra. A consciência é um ingrediente indispensável da mente humana, mas não constitui a globalidade da mente humana (Damásio, 2000). No segundo caso, a consciência refere-se à totalidade do potencial vivenciável, i.e., corresponde à área mental, vida (vivência) psíquica. Portanto, inclui: a) os campos da consciência: consciência da vigilidade ou vígil média (consciência quotidiana), consciência do sono, sobreconsciência e subconsciência, e b) o consciente e (pelo menos em parte) o inconsciente (Scharfetter, 1999). Nesta perspectiva, Simões (1997a) propõe a seguinte definição de consciência (psicológica): "é a totalidade experiencial, imediata e actuante da vida psíquica momentânea, dentro do fluir contínuo desta. Manifesta-se pelas capacidades de captar, ordenar, integrar e responder a informação proveniente do mundo interior, exterior e de outros indivíduos, envolvendo ou não estimulação de órgãos sensoriais, capacidade de influenciar agentes físicos ou organismos vivos por meios não mecânicos, bem como de elaborar a comunicação verbal, não verbal gestual e não verbal presencial. É óbvio que nestas capacidades se incluem não só os fenómenos psíquicos conhecidos, como também os chamados fenómenos "anómalos" ou parapsicológicos e ainda os fenómenos placebo" (p. 109).

Distingue-se o campo ou âmbito de consciência (conjunto, maior ou menor, de processos psicológicos que ela abarca) da clareza de consciência ou lucidez (a nitidez maior ou menor dessa experiência) (Pestana & Páscoa, 1998). Fala-se em consciência marginal ou limite da consciência, quando uma experiência não se situa no âmago da atenção, sendo, portanto, vaga e pouco clara (Chaplin, 1981).

CAMPOS DA CONSCIÊNCIA

Apresentam-se em separado a consciência vígil média diurna (consciência do dia-a-dia), a subconsciência (realidade do não dia-a-dia) e a sobreconsciência ou superconsciência (tocando a transcendência). Cada campo da consciência tem a sua própria e característica área de experiência, assim como as respectivas ligações com o Eu/Self, com o ser individual e com a validade da racionalidade. No entanto, a designação destes três campos da consciência não implica que eles sejam campos claramente delimitados e separados. Na realidade, já no estado de consciência vígil média diurna nós flutuamos continuamente na corrente de consciência (William James), em discretas (e a partir do exterior nem sempre facilmente verificáveis) oscilações relativamente à lucidez, clareza, alcance, horizonte, profundidade, extensão, altitude, atmosfera, focalização, em relação a vivências, receptividade ou actividades dirigidas, estimuladas interna ou externamente (Scharfetter, 1999). A superconsciência é, portanto, a consciência "clara" e transparente em oposição à subconsciência. Designa-se por limiar da consciência, o limite a partir do qual um processo inconsciente se torna consciente. Todavia, as delimitações definitivas de "super", "sub" e "in"-consciente (sobretudo deste último) não são precisas e unívocas (Dorsch, Hacker, & Stapf, 2001).

ESTADOS DE CONSCIÊNCIA

De modo bastante conciso, pode-se definir um estado de consciência (EC), como um padrão generalizado de funcionamento psicológico (Tart, 1991). A atenção parece desempenhar importante papel no direccionamento do estado de consciência, admitindo ou negando experiências específicas que entram na consciência (Davidoff, 1983). [1]

ESTADOS MODIFICADOS DE CONSCIÊNCIA

Em termos gerais, um estado modificado de consciência (EMC), pode ser definido como um estado mental que pode ser subjectivamente reconhecido, por um indivíduo ou por um observador objectivo desse indivíduo, como representando uma diferença no funcionamento psicológico daquele estado "normal", alerta e desperto do indivíduo (Krippner, 1993). No entanto, é de realçar que um EMC não é definido por um conteúdo particular da consciência, por um comportamento ou por uma modificação fisiológica, mas em termos do seu padrão total (Tart, 1991).

A designação altered states of consciousness, foi utilizada pela primeira vez por Charles Tart no final dos anos 50 (Drouot, 1996). O mérito de Tart foi isolar os estados modificados de consciência provocados pelas drogas, alargando o fenómeno da expansão da consciência a um grande número de fenómenos como a meditação, o Yôga, os sonhos lúcidos, a auto-hipnose, o transe, os estados de êxtase, as vivências místicas, etc. (Descamps, 1997a). Contudo, segundo Simões (1997a), a expressão estados alterados de consciência (EAC) justifica-se apenas quando existe obnubilação de consciência. Assim, na sua opinião (Simões, 1997b), «estados modificados de consciência» é a tradução preferível da designação anglo-saxónica altered states of consciousness.

No entanto, para Tart (1995), os termos estado de consciência e estado modificado de consciência passaram a ser usados de maneira demasiado imprecisa, significando qualquer coisa em que se pense no momento em que são experimentados. Por isso, este autor propõe os novos termos: «estado distinto de consciência», «estado básico de consciência» e «estado distinto modificado de consciência», para uma maior precisão. Um estado distinto de consciência (d-SoC - discrete state of consciousness) é um padrão ou configuração dinâmica singular de estruturas psicológicas, um sistema activo de subsistemas psicológicos. Embora as estruturas/subsistemas componentes mostrem algumas variações entre si no interior de um estado distinto de consciência, as propriedades do padrão geral, do sistema geral, são reconhecivelmente as mesmas. Apesar da variação subsistémica e ambiental, um d-SoC é estabilizado por alguns processos, mantendo assim a sua identidade e função. São exemplos de d-SoC: o estado desperto comum, o sono sem sonhos, o sono com sonhos, a hipnose, a intoxicação alcoólica e por canabinóides (e.g., haxixe), e os estados de meditação. Quanto ao estado distinto modificado de consciência (d-ASC - discrete altered state of consciousness), refere-se a um d-Soc que difere de algum estado básico de consciência (b-SoC - baseline state of consciousness). Em geral, o estado normal de vigília é considerado o estado básico. Um d-ASC é um novo sistema de características singulares próprias, o que implica uma reestruturação da consciência. "Modificado" é usado como termo puramente descritivo, sem ter valores agregados a si.

Na génese dos conteúdos dos EMC encontra-se um processamento da informação resultante da experiência, sendo aquela tratada como material ambíguo, temporariamente presente, condicionado pelo seu conhecimento prévio e por esquemas cognitivos. Outros factores intervenientes são a análise estrutural e semântica, por comparação com informação previamente armazenada. Todavia, é de realçar que, no EMC não ocorre apenas uma perturbação cognitiva, mas também uma alteração do humor ou afecto. No fundo, trata-se de uma vivência, em que a totalidade da personalidade é envolvida e por isso susceptível de modificar as cognições (Simões, 1997a).

Para Dittrich (1997), as características gerais dos estados modificados de consciência, podem resumir-se nos seguintes pontos:

1. Representarem um desvio do habitual estado de consciência do indivíduo saudável, quanto ao seu funcionamento psicológico ou percepção subjectiva, não apenas ao nível da coordenação motora, mas igualmente quanto à consciência de si mesmo e no relacionamento com o mundo, como que constituindo uma realidade separada no tempo e no espaço;

2. Durarem apenas uma ou poucas horas ao contrário das perturbações psiquiátricas;

3. Poderem ser auto-induzidos ou, pelo menos, de indução voluntariamente aceite;

4. Ocorrerem "normalmente", não sendo o resultado de doença ou de circunstâncias sociais adversas;

5. Serem considerados "irracionais", "anormais", "exóticos" ou até "patológicos" pelas normas sociais dominantes na sociedade ocidental.

De acordo com Simões, Polónio, Von Arx, Staub, e Dittrich (1986), os agentes de indução mais importantes de estados modificados de consciência, são:

1. Alucinogénios de primeira ordem: mescalina; LSD (dietilamida do ácido lisérgico, ou apenas, «ácido»); psilocibina; N,N-dimitiltriptamina (DMT); e o 9-THC, a substância activa do haxixe e da marijuana;

2. Alucinogénios de segunda ordem: escopolamina; gás hilariante (óxido nitroso); muscimol, a substância activa do amanita muscaria (espécie de cogumelo venenoso). O seu efeito é caracterizado, frequentemente, por obnubilação da consciência e, mais raramente, por alucinações cénicas;

3. Redução dos estímulos do meio externo ou contactos ambientais, em sentido lato, o que inclui: a privação sensorial; estados hipnagógicos; hipnose; técnicas auto-
-hipnóticas como o Treino Autogéneo de Schultz; e técnicas de meditação;

4. Aumento dos estímulos do meio ou contactos ambientais (inundação ou sobrecarga de estímulos sensoriais). Há basicamente dois tipos diferentes: (1) uma estimulação intensa monótona e rítmica de vários órgãos sensoriais; e (2) "bombardeamento" sensorial com estímulos muito variáveis.

Outros agentes que provocam estados modificados de consciência, que não encaixam neste esquema são, por exemplo, a combinações de diferentes destas técnicas, a hiperventilação, a privação de sono (Dittrich, 1997), a provocação de sentimentos mais fortes, quer de tipo negativo (medo, dor, abandono) quer de tipo positivo (protecção, sentimentos de auto-estima e felicidade, elegibilidade, condescendência, corrente de força), a fome, o jejum, o frio, o calor, o jogging, o alpinismo, o mergulho (Scharfetter, 1999), ou um esforço físico extremo (S. Grof & C. Grof, 1995b). Contudo, C. Grof e S. Grof (1994) salientam que, a grande série de aparentes factores desencadeadores de estados modificados de consciência, sugere claramente que a vontade das pessoas em vivenciá-los, é muito mais importante do que a existência de estímulos externos.

Os EMC podem também surgir de modo espontâneo, sem causa específica discernível, muitas vezes contra a vontade da pessoa a quem acontecem. Além disso, todas as pessoas têm - pelo menos duas vezes por dia - a experiência de estados modificados de consciência: no momento de adormecer (estado hipnagógico) e no momento de acordar (estado hipnopômpico). É entre a vigília e o sono que se encontra um espaço privilegiado em que podemos ter sonhos, determinadas visões e determinadas percepções (Baudin & Tora, 1997).

Os estados de consciência são pessoais, logo subjectivos. Os conhecimentos obtidos num determinado estado de consciência são específicos desse mesmo estado, pelo que para reexperimentar o que se conheceu em determinado estado, é necessário retornar ao mesmo. No entanto, os estados modificados de consciência (EMC) têm um conjunto de pontos comuns (conteúdos), independentemente do modo como são induzidos, isto é, não são etiologicamente específicos. A um nível dimensional, significa que os EMC têm em comum determinadas dimensões principais, independentemente da sua origem (meios de indução) ou intensidade (Simões, 1997a). Estas dimensões são designadas por:

1. «Auto-ilimitação Oceânica»: é caracterizada por uma dissolução de lógica, espaço, tempo, esquema corporal e limites, e que culmina numa vivência de fusão (unidade) com o universo, acompanhada por sentimentos de felicidade e paz (Scharfetter, 1999).

2. «Autodissolução Angustiante»: corresponde, no essencial, a uma bad trip (má viagem) sob o efeito de alucinogénios: a pessoa sente-se torturada, separada, dividida, paralisada, perdida (Scharfetter, 1999).

3. «Reestruturação Visionária»: inclui pseudo-alucinações visuais, visões, ilusões, sinestesias e alterações do significado do ambiente (Simões et al., 1986).

Todavia, isto não exclui a existência colateral de dimensões específicas, como, por exemplo, uma provável dimensão «Obnubilação da Consciência», se os EMC forem provocados por alucinogénios de segunda ordem (Simões, 1997a).

Segundo Simões (1996), podemos diferenciar os estados modificados de consciência em vigília, da seguinte forma:

1. EMC em vigília ordinária, nos quais há dominância do estado de activação em relação ao de repouso; ênfase na actividade mental característica do hemisfério cerebral esquerdo; dominância na recepção de estímulos exteriores; pouca utilização da imaginação - domínio da actividade mental ou física, sobre a contemplativa;

2. EMC em vigília diferenciada, em que há domínio de um estado de repouso; domínio da recepção de estímulos de fontes internas (corporais ou de conteúdos da memória); imaginação considerável; estado passivo de actividade mental - domínio da contemplação sobre a acção.

Estes últimos não são de experiência comum nas culturas ocidentais, salvo em determinados círculos religiosos ou culturais e, por isso, quando ocorrem, criam um sentimento inicial de surpresa e depois de inquietação ou desassossego, por não existir concordância com as vivências habituais (Simões, 1996). Mas, os estados modificados de consciência não são patológicos em si mesmos, isto é, decorrem de um contexto, frequentemente mágico, religioso ou curativo, sendo integrados na cultura que os propicia (Simões, 1997b). Além disso, os estados modificados de consciência têm geralmente a duração de minutos ou horas, o que os diferencia da maioria das doenças psiquiátricas (Simões, 1996).

A teorização dos estados modificados de consciência rompe com os paradigmas da lógica formal, nomeadamente da continuidade espaço-tempo, da contradição, da causalidade linear, da psicologia da consciência do Eu (vitalidade, actividade, consistência ou unidade, demarcação, identidade), etc., mas também com o pressuposto da consciência como produto exclusivo do cérebro (Simões, 1997a).

EXPERIÊNCIAS TRANSPESSOAIS

As experiências transpessoais (ou estados conscientes "expandidos") abarcam um conjunto de fenómenos muito vasto e de múltiplas facetas, no entanto, elas têm um denominador comum: envolvem a expansão ou extensão da consciência além das limitações usuais do ego e das limitações de tempo e/ou espaço, i.e., o conteúdo de uma experiência transpessoal particular vai além dos elementos do mundo fenomenal tridimensional (ou «realidade objectiva»), que nós conhecemos nos estados de consciência usuais (Grof, 1983). Tipicamente, estes estados desenvolvem-se em quatro diferentes níveis: sensório, evocativo-analítico, simbólico e integral. No nível sensório, há relatos subjectivos de alterações do espaço, do tempo, da imagem do corpo e das impressões sensórias. No nível evocativo-analítico, surgem ideias e pensamentos novos acerca das psicodinâmicas do indivíduo ou acerca da concepção do mundo e do seu papel nele. No nível simbólico, há uma identificação com personalidades históricas ou lendárias, com a recapitulação evolucionária ou com símbolos míticos. No nível integral (que, comparativamente, poucos indivíduos atingem), há uma experiência de consciência cósmica, experiência máxima, experiência religiosa e/ou mística, na qual Deus (ou a "Base do Ser") é confrontado ou então ocorre uma sensação subjectiva de dissolução no campo energético do Universo (Krippner, 1993).

Grof (1991) realça que deve ser feita uma distinção entre os estados modificados de consciência (EMC) e as experiências transpessoais. O termo estados modificados de consciência inclui as experiências transpessoais, mas existem certos tipos de experiências que podem ser qualificados de estados modificados de consciência, que não atingem o critério para serem catalogadas como transpessoais. São exemplos de EMC, não necessariamente transpessoais: as experiências de revivência vívida e complexa de uma memória infantil; vários jogos de fantasia e experiências simbólicas resultantes do uso de técnicas de fantasias afectivas induzidas; e as experiências primariamente estéticas, envolvendo visões de cores, de padrões ornamentais e de estruturas geométricas, em sessões psicodélicas.

NÍVEIS DE CONSCIÊNCIA

Para Bentov (1990), consciência é a capacidade de resposta a estímulos, por parte de um sistema (que também pode ser um sistema nervoso, por mais rudimentar que seja). Assim, a quantidade de consciência é dada em termos do número de respostas que um sistema pode dar, como reacção a um estímulo. Quanto à qualidade da consciência ou nível de consciência, é o grau de refinamento ou inteligência de tais respostas, bem como o seu espectro, expresso em termos de resposta de frequência (ou resposta sinusoidal). Na prática, podemos considerar o nível de consciência de uma pessoa por meio da razão entre o seu tempo subjectivo e o seu tempo objectivo. A gama dessas razões é muito ampla. Começa com pequenas diferenças, que normalmente seriam interpretadas como uma simples "divagação da atenção", passando pelo sonhar, que é, um estado modificado de consciência, passando pela dilatação temporal induzida por hipnose, e chegando, finalmente, a um estado de meditação profunda, durante o qual o tempo é "parado" ou "quase parado". Podemos expressar isso numa forma matemática simples: índice de nível de consciência = tempo subjectivo / tempo objectivo.

TRAÇO MODIFICADO DE CONSCIÊNCIA

Hoje sabemos que existem enormes diferenças entre os estados de consciência de pessoas "normais" (Tart, 1991). E, portanto, um estado modificado de consciência para uma pessoa pode ser a experiência do dia-a-dia para outra (Bentov, 1990; Tart, 1991, 1995). Pelo facto das sociedades treinarem as pessoas a comportarem-se e a comunicarem em linhas socialmente aprovadas, estas diferenças são encobertas, deixadas de lado, sob o pretexto de serem "subterfúgios", "idiossincrasias", "diferenças pessoais", etc. (Tart, 1991).

Bentov (1990) escreveu:

Temos a tendência de julgar que o sistema nervoso humano é como qualquer outro órgão do nosso corpo, relativamente estático e não sujeito a mudanças. Eu gostaria de assinalar que, pelo contrário, ele possui um tremendo potencial de desenvolvimento, que se processará ao longo da evolução biológica normal, durante os milénios que virão. Essa evolução pode ser acelerada graças ao emprego de certas técnicas. (p. 223)

Uma tal alteração duradoura da estrutura e dos processos de consciência não é mais um estado modificado de consciência, mas representa um traço modificado de consciência (TMC), onde os atributos de um estado modificado de consciência são assimilados aos estados de consciência comuns (Goleman, 1991).

Descamps (1997b) salienta também que, o estado transpessoal diferencia-se nitidamente das experiências transpessoais, breves e imprevistas, pelo facto de ser procurado e permanente. A obtenção do estado transpessoal culmina numa transformação completa do ser. A pessoa deixa de estar centrada no seu ego, enroscada sobre si própria, "encapsulada no seu corpo". O indivíduo "pessoal" é orgulhoso, egoísta, colérico, rancoroso e interesseiro. A sua busca de poderes psíquicos para espantar os outros e o próprio, através da magia, da bruxaria ou da parapsicologia, limita-se apenas a reforçar o ego. Por outro lado, o estado transpessoal produz humildade, pois o ego é abolido. Pela abertura do coração, leva a pessoa a abrir-se às outras e permite o perdão, visto que não estamos separados uns dos outros e já não há mais nada que possa ser ferido. Este estado desemboca numa transformação completa da vida, que já não está centrada em objectivos egoístas, mas abre-se ao altruísmo, ao amor, à ajuda de todos os seres vivos, na consciência de formar com eles um só.

De acordo com Weil (1976), até hoje não sabemos muito bem o que é a percepção "normal" ou o que é "ser normal", pois o conceito de "normalidade" varia conforme as épocas, conforme as sociedades e culturas. Assim, na opinião de Tart (1991), mais do que discutirmos sobre a utilidade do conceito de estados de consciência, deveríamos dedicar-nos à compreensão de como os vários indivíduos diferem.

ÍNDIA: BERÇO DAS ARTES MARCIAIS

Na tradição hindu, Shiva, o Terceiro Aspecto da Trimurti (Trindade) hindu, cujo atributo é a renovação (DeRose, 1999), tem cem nomes (Zimmer, 1997), entre os quais: Yôgêndra, Yôgêshwara ou Mahayôgi, o Senhor do Yôga (Daniélou, 1989), mas também: Sômaskánda, o Deus da Guerra (Zimmer, 1997).

Yôga (união) é qualquer metodologia estritamente prática que conduza ao samádhi, o estado de hiperconsciência, de megalucidez, que proporciona o autoconhecimento, bem como o conhecimento do Universo (DeRose, 1999). O Yôga é uma filosofia que se caracteriza por ser estritamente prática e também pela sua estrutura iniciática (gupta vídya - tradição secreta), ou seja, aprende-se por transmissão oral (parampará) da boca do Mestre (pati ou guru) ao ouvido do discípulo (shishya ou chêla) (vakrat vak tantraram) (Eliade, 1954). Todavia, o papel do guru é como que exteriorizar, ou substituir, o verdadeiro guru interior, o Átma (o Eu na filosofia hindu Vêdánta), enquanto o iniciado não consegue ainda, por si próprio, entrar em comunicação consciente com Ele (Barahona, 1996). As técnicas corporais do Yôga têm como objectivo canalizar correctamente as energias (pránas), a fim de que elas circulem a um certo ritmo nos principais canais (nádís) do organismo subtil, para activar a formidável energia serpentina kundaliní enrolada no chakra basal (múládhára), localizado na base da coluna, e fazê-la subir através dos outros chakras até ao «Lótus das mil pétalas» (sahásrara), localizado no cimo do crânio (Eliade & Couliano, 1995). Nas tradições filosóficas e espirituais orientais, o mecanismo que conduz à "iluminação" (esclarecimento intelectual) individual e que produz a evolução das espécies para níveis mais elevados de consciência, é a kundaliní, uma força potencial que uma vez despertada pode produzir uma variedade de efeitos físicos, emocionais, mentais e espirituais (Greyson, 1993). Kundaliní é um termo sânscrito que pode ser traduzido por serpentina ou enroscada, aquela que tem a forma de uma serpente. É um termo feminino por ser o Poder Ígneo, de natureza feminina, isto é, de polaridade negativa. A kundaliní é uma energia física, de natureza nervosa e manifestação sexual (DeRose, 1992, 1999; Santos, 2000). Chakra é também um termo sânscrito que pode ser traduzido por roda ou círculo. São centros de força situados em todo o corpo humano; os sete principais localizam-se no plano médio-sagital (ao longo da coluna vertebral, intercílio e topo do crânio) (DeRose, 1999). O despertar da kundaliní refere-se ao poder sagrado experimentado como um calor extremo, o qual é obtido pela transmutação da energia sexual, geralmente através de técnicas xamânicas, tântricas, yôguicas e místicas (Eliade, 1989). De acordo com a opinião dos antigos mestres, o aparelho reprodutor tem duas funções: a reprodução e a evolução. Com o despertar da kundaliní dá-se a reversão do aparelho reprodutor e o seu funcionamento mais como mecanismo de evolução do que de reprodução, enviando para o cérebro um fino fluxo de "energia nervosa" muito potente (Krishna, 1985).

Até ao século XIX pensava-se que o Yôga teria sido um produto trazido para a Índia, por nómadas das planícies eurasianas, em torno de 1500 a.C. Hoje, essa tese está totalmente descartada (Santos, 2000), uma vez que no Vale do Indo, foi encontrado um selo representando o proto-Shiva Pashupati (o Senhor dos animais), sentado numa posição de Yôga, rodeado de animais, com três rostos (criador, conservador e renovador), e com o falo erecto (Eliade & Couliano, 1995; Krishna, 1985; Wheeler, 1972). Segundo a tradição, Shiva é o primeiro Mestre yôgi (Daniélou, 1989; DeRose, 1983, 1999).

Segundo Straube (n.d.), dentro do Swásthya Yôga (ou Shiva Yôga) existe uma prática denominada Shiva Natarája nyása (identificação com Shiva no seu aspecto de bailarino real), que se assemelha a uma dança, mas que na realidade constitui uma arte marcial secreta da qual nasceu o Kempo (nome japonês de Kung Fu), e posteriormente o Karate-Do. No entanto, há que ter presente que existem dois tipos principais e antagónicos de dança, correspondendo às manifestações benévola e colérica de Shiva. A Tándava, dança feroz e violenta, alimentada por uma energia explosiva e arrebatadora, é uma erupção delirante que provoca a devastação. Efusão violenta e frenética de energias divinas, tem características que sugerem uma dança de guerra cósmica destinada a despertar as energias destrutivas e a provocar a devastação sobre o inimigo; é, simultaneamente, a dança triunfal do vencedor. A dança da guerra converte em guerreiros aqueles que a executam, despertando as suas virtudes bélicas e transformando-os em intrépidos heróis (Zimmer, 1997). Segundo a lenda, o Kalarippayat, arte marcial indiana de origem dravídica, provém do Samhara Tándava, dança de dissolução cósmica do deus Shiva, na qual aparecem movimentos de ataque e defesa com base no princípio da dualidade Homem-Mulher (Shiva-Shaktí) (G. Habersetzer & R. Habersetzer, 2000). A Lásya, pelo contrário, é uma dança lírica e suave, cheia de doçura e representa as emoções da ternura e do amor. Shiva é o perfeito mestre das duas (Zimmer, 1997).

Shiva, o criador mitológico do Yôga, é muitas vezes representado na iconografia como um guerreiro, que tem como "emblema" principal a trishúla, a lança tridente (Chevalier & Gheerbrant, 1997), "a sua arma como herói" (Zimmer, 1997, p. 144). Shiva é também representado portando outras armas: uma espada, um gancho, um laço, um escudo, e um arco e flechas, pois, segundo a tradição védica, Shiva fora, em tempos antigos, um caçador. Tal como o linga(m) (falo), a flecha de Shiva é o veículo da sua energia: os dois são o mesmo (Zimmer, 1997). Por isso, Shiva também é chamado Agrionos (o Caçador) e Sharva (o Arqueiro) (Daniélou, 1989).

De acordo com Eliade (1954, 1989), o despertar da kundaliní também pode também ser proporcionado pelas iniciações militares. Para este autor, vários termos do vocabulário "heróico" indo-europeu (e.g., furor, ferg, wut, ménos) exprimem justamente esse calor "mágico" e essa cólera que caracterizam, nos outros planos da sacralidade, a incorporação do "poder". Assim, tal como um yôgin (praticante de Yôga) ou um xamã (adepto do Xamanismo), o jovem herói "aquece" durante um combate iniciático. Maliszewski (1996) refere que os mestres da arte marcial indiana Kalarippayattu, embora considerem o Yôga como a prática suprema para alcançar o estado de hiperconsciência (samádhi), realçam que também é possível despertar a kundaliní, através do treino correcto desta arte marcial. No entanto, segundo Morris (1993), os ensinamentos sobre kundaliní nas artes marciais eram transmitidos directamente do mestre ao discípulo, somente depois de este ter passado muitos anos com o seu mestre e de ter provado que merecia recebê-los. Além disso, Cangelosi (1997) realça que os ensinamentos sobre a kundaliní (jing chi em chinês) nas artes marciais são secretos, uma vez que o seu despertar pode ser perigoso:

Nem todos os indivíduos conseguem dominar marcialmente este tipo de técnica, e muitos mestres do passado, realizando provas da emissão desta energia, frequentemente sofreram sérios transtornos no seu organismo. Isto explica a razão destas técnicas serem na antiguidade, ensinadas de forma secreta e selectiva. Por este motivo, com o passar do tempo, muitos destes ensinamentos perderam-se. Exclusivamente permanecem através de lendas e das histórias dos grandes mestres do passado. Talvez seja melhor assim... (p. 47)

De facto, o despertamento do poder da serpente (kundaliní-shaktí) pleno e seguro deve ser precedido por uma etapa de purificação intensiva do corpo (Feuerstein, 2001) e das nádís, designada por bhúta shuddhi, não apenas com a prática de mantras (vocalização de sons), kriyás (actividades de purificação interna), pránáyámas (exercícios respiratórios para expansão da bionergia), mas também com uma rígida selecção alimentar, jejuns regulares moderados e com um sistema de reeducação das emoções para que o praticante não conspurque o seu corpo com os detritos tóxicos das emoções viscosas como o ódio, a inveja, o ciúme, o medo, etc. Para além disso, também é regulada a quantidade de exercício físico, de trabalho, de sono, de sexo e de alimentos. Há uma medida ideal para cada um desses factores. Qualquer excesso ou carência pode comprometer o resultado almejado (DeRose, 1992, 1999).

Os termos libido, orgônio (ou orgone) e sexualidade, podem designar diferentes aspectos da kundaliní (DeRose, 2000). A ideia de libido foi introduzida na Psicologia pelo austríaco Sigmund Freud (1856-1939), o fundador da Psicanálise. Para os freudianos, a libido é a energia derivada da pulsão sexual, que proporciona a força que motiva e impele quase toda a actividade humana (Feuerstein, 1991; Singer, 1991; Weil, 1979). No entanto, kundaliní difere da libido por trazer consigo uma implicação "espiritual", o aspecto que Freud escrupulosamente evitou ao falar da libido (Singer, 1991). Por outro lado, o psicanalista austríaco Wilhelm Reich (1897-1957), ex-discípulo de Freud, considerava que o conceito freudiano de libido expressava uma energia real que flui no organismo e é organizada segundo leis que se aplicam à estrutura do carácter das pessoas, de acordo com uma economia tal que o sistema permite libertar ou conter montantes dessa energia. No início, Reich acreditava que esta energia, o orgone, termo derivado das palavras «organismo» e «orgasmo», era específica aos organismos vivos, mas ulteriormente definiu-a como uma energia pré-atómica universal (Pierrakos, 1989).

Quem tornou disponíveis as informações acerca da kundaliní junto a grandes audiências ocidentais de forma geral e popular, foi o indiano Gopi Krishna (1903-1984), fundador da Kundaliní Research Foundation, Ltd. (S. Grof & C. Grof, 1995a). Na sua opinião (Krishna, n.d.):

Esse mecanismo, conhecido como kundaliní, é a verdadeira causa de todos os fenómenos espirituais e psíquicos autênticos, é a base biológica da evolução e do desenvolvimento da personalidade, a origem secreta de todas as doutrinas ocultas e esotéricas, a chave mestra para o ainda não resolvido mistério da criação, a fonte inesgotável da filosofia, da arte e ciência, e o manancial de todas as crenças religiosas, presentes, passadas e futuras. (p. 199)

Em 1932, o psiquiatra e psicanalista suíço Carl Gustav Jung (1875-1962), fundador da Psicologia Analítica, organizou um seminário internacional sobre a Psicologia do Kundaliní Yôga (Sannella, 1992). Jung (1996) estava convencido que o simbolismo do Kundaliní Yôga sugeria que a bizarra sintomatologia presente nalguns pacientes do tempo presente, nomeadamente a localização peculiar dos sintomas físicos, resultava do despertar desta força. Jung considerava também que, ver a experiência da kundaliní como uma criação pessoal, é algo perigoso. Isso levaria à expansão do ego, a uma falsa superioridade, ao pedantismo ou mesmo à loucura. No entanto, o crédito de trazer à atenção dos círculos médicos o processo do despertar da kundaliní e por demonstrar sua significação clínica prática pertence ao psiquiatra e oftalmologista norte-americano Lee Sannella (S. Grof & C. Grof, 1995a). Sannella fundou com outros médicos a Kundaliní Clinic em Oakland - Califórnia, no final dos anos 70 (Feuerstein, 1996), onde reuniu amplas evidências de que muitos pacientes americanos manifestam uma síndroma que se enquadra nas descrições do despertar da kundaliní e caracterizou um processo fisiológico específico (S. Grof & C. Grof, 1995a). Contudo, os curiosos fenómenos associados ao despertar da kundaliní, como as sensações intensas de calor, luz, som, pressão e até dor, não devem ser confundidos com a kundaliní em si mesma. Por isso, Sannella deu a esse fenómeno o nome genérico de «fisio-kundaliní» (Feuerstein, 2001).

ESTUDOS EMPÍRICOS

Ramos (2001) realizou um estudo com o propósito de determinar se um estado modificado de consciência (EMC), nas diferentes dimensões: «Auto-ilimitação Oceânica», «Autodissolução Angustiante» e «Reestruturação Visionária»; um estado modificado de consciência que resume os aspectos comuns dos EMC como um todo; e/ou, um estado modificado de consciência independente de qualquer dimensão, decorre do treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu. Este estudo teve ainda como objectivos secundários: averiguar se o treino desta arte marcial modifica os conteúdos da consciência; descrever os conteúdos da consciência dos karatekas (praticantes de Karate-Do) em situação de treino; indagar se o treino desta arte marcial modifica conteúdos específicos da consciência; e, determinar se aumenta a capacidade de atenção e concentração, após cada sessão de treino. Participaram neste estudo vinte e três karatekas do estilo Okinawa Goju-Ryu, de nacionalidade portuguesa, jovens adultos, caucasianos, do género masculino, residentes no Distrito de Lisboa. Foram efectuadas três sessões experimentais no Clube Atlético de Queluz (C.A.Q.) e no Ginásio do Monte Abraão (G.M.A.), intervaladas uma semana. Para indagar se um estado modificado de consciência decorre do treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu, com indivíduos portugueses, jovens adultos, caucasianos, do género masculino, os participantes responderam ao Questionário de Estados Modificados de Consciência APZ, desenvolvido por Dittrich (1975), antes de cada uma das três sessões experimentais, referente às vivências ocorridas nas duas horas anteriores, e novamente no fim das mesmas, relativamente às vivências que ocorreram durante o período de treino de Karate-Do. Sempre que se verificou um aumento do número de indivíduos que vivenciaram um estado modificado de consciência, do primeiro para o segundo momento de avaliação, recorreu-se ao Teste estatístico não-paramétrico de McNemar para determinar se esse aumento foi significativo. Para averiguar se o treino desta arte marcial, na população referida, modifica os conteúdos da consciência, comparou-se o número de respostas "Sim" assinaladas no Questionário de Estados Modificados de Consciência APZ, no primeiro e no segundo momento de avaliação de cada uma das três sessões experimentais. Quando se verificou um aumento do número dessas respostas "Sim", do primeiro para o segundo momento de avaliação, recorreu-se ao Teste estatístico não-paramétrico de McNemar para determinar se esse aumento foi significativo. Para descrever os conteúdos da consciência que caracterizam a amostra em estudo, em situação de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu, recorreu-se às respostas "Sim" assinaladas no Questionário de Estados Modificados de Consciência APZ, no segundo momento de avaliação de cada uma das três sessões experimentais. Em termos de rastreio da prevalência destes conteúdos da consciência, recorremos a uma metodologia semelhante à utilizada por Simões et al. (1986), i.e., foi pedido aos karatekas que realizassem uma retrospecção de um ano. Para indagar se o treino desta arte marcial, na população referida, modifica conteúdos específicos da consciência, comparou-se o número de respostas "Sim" assinaladas em determinados itens do Questionário de Estados Modificados de Consciência APZ, no primeiro e no segundo momento de avaliação de cada uma das três sessões experimentais. Quando se verificou um aumento do número de respostas "Sim" assinaladas num item, do primeiro para o segundo momento de avaliação, recorreu-se ao Teste estatístico não-paramétrico de McNemar para determinar se esse aumento foi significativo. Para averiguar se o treino desta arte marcial, na população referida, aumenta a capacidade de atenção e concentração após cada sessão de treino, os participantes executaram o Teste de Atenção e Concentração D 2, desenvolvido por Hogrefe (1972), com a duração de um minuto, antes de cada uma das três sessões experimentais, e novamente no fim das mesmas. Sempre que se verificou uma melhoria nas pontuações no Teste D 2, do primeiro para o segundo momento de avaliação, recorreu-se ao Teste estatístico paramétrico "t" de pares ou ao Teste estatístico não-paramétrico de Wilcoxon (consoante as distribuições estatísticas eram normais ou não) para determinar se esse aumento foi significativo. Para todas as análises estatísticas, o nível de significância escolhido foi o de a = .05. O número de indivíduos que vivenciaram um estado modificado de consciência (EMC) nas dimensões: «Auto-ilimitação Oceânica», «Autodissolução Angustiante», «Reestruturação Visionária»; um estado modificado de consciência que resume os aspectos comuns dos EMC como um todo; e, um estado modificado de consciência independente de qualquer dimensão, não se alterou significativamente do primeiro para o segundo momento de avaliação, nas três sessões experimentais. Apenas um indivíduo vivenciou um EMC na dimensão «Autodissolução Angustiante», um EMC na dimensão «Auto-ilimitação Oceânica, um EMC na dimensão «Reestruturação Visionária», um EMC que resume os aspectos comuns dos estados modificados de consciência como um todo, e um EMC independente de qualquer dimensão, na primeira sessão experimental; um indivíduo vivenciou um EMC independente de qualquer dimensão, na primeira sessão experimental; um indivíduo vivenciou um EMC na dimensão «Autodissolução Angustiante», um EMC na dimensão «Auto-ilimitação Oceânica, um EMC na dimensão «Reestruturação Visionária», um EMC que resume os aspectos comuns dos estados modificados de consciência como um todo, e um EMC independente de qualquer dimensão, na segunda sessão experimental; e, um indivíduo vivenciou um EMC na dimensão «Autodissolução Angustiante», um EMC na dimensão «Auto-ilimitação Oceânica, e um EMC independente de qualquer dimensão, na terceira sessão experimental. Existiram diferenças significativas entre o número de conteúdos da consciência vivenciados pelos participantes nas duas horas anteriores à primeira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma,
T (n = 3160) = 18, p = .000; existiram diferenças significativas entre o número de conteúdos da consciência vivenciados pelos participantes nas duas horas anteriores à segunda sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, c2 (1, n = 3160) = 118.00, p = .000; não existiram diferenças significativas entre o número de conteúdos da consciência vivenciados pelos participantes nas duas horas anteriores à terceira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, T (n = 2686) = 1, p = 1.000. Os conteúdos da consciência vivenciados em todas as sessões experimentais por mais de um quinto dos participantes e vivenciados por mais de dois quintos no último ano de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu, foram: "Eu estava convencido de já ter vivido a mesma situação" (item 41 - EEMC); "Estava cansado e esgotado, porém ao mesmo tempo completamente acordado" (item 58 - EEMC); e, "Eu estava extremamente acordado e supersensível" (item 137 - EEMC). Não existiram diferenças significativas entre o número de indivíduos que vivenciaram o conteúdo da consciência: "Eu estava convencido de já ter vivido a mesma situação" (item 41 - EEMC), nas duas horas anteriores à primeira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, T (n = 20) = 3, p = .250; não existiram diferenças significativas entre o número de indivíduos que vivenciaram o conteúdo da consciência: "Eu estava convencido de já ter vivido a mesma situação" (item 41 - EEMC), nas duas horas anteriores à segunda sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, T (n = 20) = 3, p = .250; não existiram diferenças significativas entre o número de indivíduos que vivenciaram o conteúdo da consciência: "Eu estava convencido de já ter vivido a mesma situação" (item 41 - EEMC), nas duas horas anteriores à terceira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, T (n = 17) = 3, p = .250. O número de indivíduos que vivenciou o conteúdo da consciência: "Estava cansado e esgotado, porém ao mesmo tempo completamente acordado" (item 58 - EEMC), manteve-se do primeiro para o segundo momento de avaliação, na primeira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu; existiram diferenças significativas entre o número de indivíduos que vivenciaram o conteúdo da consciência: "Estava cansado e esgotado, porém ao mesmo tempo completamente acordado" (item 58 - EEMC), nas duas horas anteriores à segunda sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, T (n = 20) = 7, p = .016; não existiram diferenças significativas entre o número de indivíduos que vivenciaram o conteúdo da consciência: "Estava cansado e esgotado, porém ao mesmo tempo completamente acordado" (item 58 - EEMC), nas duas horas anteriores à terceira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma,
T (n = 17) = 3, p = .250. Não existiram diferenças significativas entre o número de indivíduos que vivenciaram o conteúdo da consciência: "Eu estava extremamente acordado e supersensível" (item 137 - EEMC), nas duas horas anteriores à primeira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, T (n = 20) = 4, p = .125; não existiram diferenças significativas entre o número de indivíduos que vivenciaram o conteúdo da consciência: "Eu estava extremamente acordado e supersensível" (item 137 - EEMC), nas duas horas anteriores à segunda sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, T (n = 20) = 4, p = .125; não existiram diferenças significativas entre o número de indivíduos que vivenciaram o conteúdo da consciência: "Eu estava extremamente acordado e supersensível" (item 137 - EEMC), nas duas horas anteriores à terceira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu e durante a mesma, T (n = 17) = 2, p = .500. Existiram diferenças significativas na capacidade de atenção e concentração entre o momento "antes" e o momento "depois" da primeira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu,
t (19) = -4.28, p = .000, ES = .95; existiram diferenças significativas na capacidade de atenção e concentração entre o momento "antes" e o momento "depois" da segunda sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu, t (19) = -3.14, p = .005, ES = 70; existiram diferenças significativas na capacidade de atenção e concentração entre o momento "antes" e o momento "depois" da terceira sessão de treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu, T (n = 17) = -2.57, p = .010. Estes dados sugerem que o treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu com indivíduos portugueses, jovens adultos, caucasianos, do género masculino, apenas modifica esporadicamente os conteúdos da consciência, e que apenas alguns indivíduos vivenciam estados modificados de consciência durante o treino desta arte marcial. Contudo, não podemos afirmar que este estudo não tenha qualquer utilidade. Em primeiro lugar, como salienta Burns (2000), até quando uma hipótese é refutada (falseada), há um avanço do conhecimento. Em segundo lugar, quando um cientista confirma uma hipótese existencial ("existencial" implica que alguém existe), cumpre com a sua tarefa imediata (McGuigan, 1976). Em terceiro lugar, apesar da maioria dos karatekas não ter vivenciado um EMC durante o treino desta arte marcial, este estudo tem algumas implicações práticas: (1) segundo Gleitman (1993), os indivíduos que apresentam características psicológicas ou fisiológicas invulgares, podem por vezes fornecer informação que seria difícil ou mesmo impossível obter a partir do estudo de indivíduos "normais". Como tal, a realização de estudos de caso com estes indivíduos que vivenciaram estados modificados de consciência durante o treino de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu, poderia fornecer dados interessantes e quiçá importantes; (2) para os profissionais de saúde mental é importante saber que a prática de Karate-Do Okinawa Goju-Ryu pode, nalguns indivíduos, desencadear a entrada em estados modificados de consciência e, consequentemente, poderem vir a desenvolver problemas espirituais. [2]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O comportamento é uma função da vivência. Isto é, a vivência de si próprio e do mundo representa um fundo de motivação para o comportamento. O conhecimento de estados modificados de consciência vígil, bem como dos seus conteúdos principais e das condições de desencadeamento, é importante para a delimitação de formas de comportamento e experiências invulgares (neste sentido anormal), e para a evicção de uma patologização antecipada (declaração como sintomas de uma doença psíquica) (Scharfetter, 1999). Só a sua persistência ou falta de autonomia pessoal ou social após a sua vivência os tornam patológicos (Simões, 1997b).
REFERÊNCIAS

Barahona, A. (1996). Glossário. In Vyassa, Poema do Senhor (Bhagavad-Guitá) (pp. 271- 340). Lisboa: Relógio D' Água.

Baudin, P., & Tora, M. (1997). A Respiração Holotrópica, Para uma consciência mais ampla de si próprio e do mundo. Lisboa: Editorial Estampa.

Bentov, I. (1990). À espreita do pêndulo cósmico, A mecânica da consciência. São Paulo: Cultrix/Pensamento.

Burns, R. B. (2000). Introduction to research methods (4th ed.). London, Thousand Oaks, & New Delhi: Sage.

Cangelosi, P. (1997). O conceito de Chi no Pakua. Cinturão Negro, 50, 42-47.

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